quarta-feira, 28 de março de 2018

TIC: Mercado de telefonia encolhe, mas valor das teles cresce 51%


Impulsionado em parte pela melhoria nas margens de lucro e pela dosagem mais racional dos investimentos, o valor de mercado das três maiores operadoras de capital aberto do país - Oi, Telefônica e TIM - aumentou 51% desde o fim de 2015.  

No mesmo período, a base de telefonia no país perdeu mais de 21 milhões de linhas móveis e 3,12 milhões de fixas. E o mercado de TV paga - no qual todas as três atuam - perdeu 1,1 milhão de assinantes nos últimos dois anos.
    
Juntas, as três teles valiam R$ 78 bilhões em bolsa, ao término de 2015, conforme dados compilados pela consultoria especializada Teleco. Ontem, o valor combinado dessas companhias totalizava R$ 118,2 bilhões. "A maior razão da alta do 'market cap' [valor de mercado] nesse período foi a evolução de margens Ebitda [lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização], com 'capex' [investimento] controlado, por basicamente todas as empresas do setor", explica um analista de uma gestora de recursos cuja carteira soma cerca de R$ 8 bilhões. O especialista, que prefere o anonimato, enxerga tendência que aponta para uma "competição mais racional" entre as operadoras, aliada a um forte controle de despesas.   

Em 2015, o Ibovespa - índice que reúne as ações mais negociadas da B3 - apresentou queda de 13,31%, amplamente compensada pelos resultados positivos acumulados em 2016 (alta de 38,94%) e no ano passado (alta de 26,86%). O bom momento do mercado de ações, porém, não é suficiente para justificar sozinho a valorização das teles.  

"O fato de o Ibovespa ter subido no período ajuda, mas não teria sido suficiente caso o setor tivesse seus fundamentos piorados", sustenta o analista.  

O valor de mercado da TIM Brasil, por exemplo, mais que dobrou desde o fim de 2015, quando estava no patamar de R$ 16,6 bilhões. Ontem, após o fechamento da B3, a operadora valia R$ 34,25 bilhões. "De 30 de junho de 2016 para cá as ações da TIM praticamente dobraram de valor, enquanto o Ibovespa aumentou 50% no período. Por quê? Porque a empresa melhorou muito", diz um analista de banco estrangeiro de investimento.  

O Ebitda normalizado (que exclui receitas ou despesas extraordinárias) da TIM saltou de R$ 5,23 bilhões em 2016 para R$ 5,94 bilhões no ano passado - um avanço de 13,74%. "A empresa está conseguindo mostrar uma geração de caixa maior", acrescenta o analista. Na opinião de um terceiro analista, que trabalha no setor de pesquisa de um grande banco, a TIM soube tirar proveito da "fraqueza da Oi" (em recuperação judicial) e da "falta de foco" da América Móvil, grupo que controla a Claro no Brasil. "A Claro não sabe se é pré ou pós", comenta essa terceira fonte, sob condição de anonimato.  

No ano passado, a Claro ampliou em 11% sua base móvel pós-paga, adicionando quase um milhão de clientes nesta categoria de consumo ao longo do quarto trimestre. Também lançou planos de voz ilimitados - primeiro pós-pagos e depois para clientes pré e controle.  

Líder no mercado brasileiro de telefonia móvel, a Telefônica viu seu valor de mercado subir 36% entre dezembro de 2015 e ontem. O percentual é inferior ao desempenho do Ibovespa, o que, na visão do analista de banco internacional de investimento, é resultado de uma menor sensibilidade da companhia às oscilações do mercado. "É uma empresa defensiva, mais estável, menos sensível à melhoria do mercado mas, que também não cai tanto quando a situação piora", argumenta.  

Em recuperação judicial desde junho de 2016, a Oi teve seu valor de mercado ampliado em 65,4% no período analisado. Valia R$ 1,91 bilhão ao término de 2015. E R$ 3,16 bilhões, ontem.  

No caso da Oi, a forte redução de custos e a ampliação do caixa ao longo do ano passado pesaram menos que os desdobramentos do processo de recuperação judicial, afirma o mesmo analista. "Os acionistas da companhia brigaram com os 'bondholders' e conseguiram muito mais do que o esperado inicialmente pelo mercado", explica. Numa fase inicial, os credores da operadora ficarão com 71% da companhia em vez dos 75% estimados originalmente.  

"Nos Estados Unidos, em reestruturações complexas é comum os acionistas sofrerem uma redução muito significativa no valor do seu 'equity'", compara Luiz Donelli, sócio do Rayes & Fagundes Advogados. Mesmo no Brasil o caso da Oi destoa de outras recuperações judiciais concluídas recentemente, como a da petroleira OGX, cujo processo foi encerrado em agosto de 2017. Antes controlador e sócio majoritário da companhia, o ex-bilionário Eike Batista saiu do processo com participação indireta de 0,65% na petroleira. A aprovação do plano de recuperação da Oi pelos credores ampliou as possibilidades de uma futura aquisição (ou fusão), o que vem atraindo a atenção de investidores.

Fonte: Valor (28/03/2018)

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