segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Comportamento: O ser humano pode viver mais? Alguns cientistas acreditam que já chegamos ao limite. EFPC's pensam o contrário


Em uma pesquisa publicada em outubro, pesquisadores identificaram uma estabilização na idade máxima dos indivíduos mais velhos do planeta

Cientistas discordam sobre nossas possibilidades de transpor barreiras biológicas do envelhecimento 

A ideia de combater ou adiar a morte e aumentar a longevidade humana permeia o imaginário da nossa espécie desde o início dos tempos. É também uma busca da ciência, que tem tido avanços consideráveis nesse campo. Mas um estudo preliminar publicado em outubro de 2016 na revista “Nature” pode jogar um balde de água fria nessas iniciativas - ou, ao menos, em alguns de seus objetivos.


Conduzido por pesquisadores da área de genética e envelhecimento da Faculdade de Medicina Albert Einstein, em Nova York, o material apresenta evidências de que há um limite intransponível na longevidade humana - e que os membros mais longevos da humanidade, aquelas que mais viveram, provavelmente já o atingiram.

120 anos em média é o limite da longevidade humana, segundo os pesquisadores
Os autores do estudo conduzido pela faculdade analisaram dados de mortalidade de 40 países. A conclusão da análise sugere que a vida humana tem um limite máximo e isso independe de doenças provocadas pela idade. O material ainda precisa passar por uma revisão na comunidade científica para ganhar status de pesquisa definitiva.

“Há inúmeras variáveis genéticas que podem causar um efeito ruim [à saúde] quando você fica velho. O que a gente vai fazer? Desenvolver uma droga para cada uma delas?”
Jan Vijg - Autor do estudo e pesquisador da Faculdade de Medicina Albert Einstein, em Nova York.

Para esses cientistas, ainda que todas as condições surgidas durante o envelhecimento sejam tratadas ou curadas, o corpo humano não foi engendrado evolutivamente para viver mais do que um certo limite máximo, cerca de 120 anos.

Com os dados demográficos observados, os pesquisadores identificaram que os picos na duração da vida humana - ou seja, os registros que dão conta de gente que viveu muito mais do que cem anos - aconteceram nos anos 1980 e não aumentaram desde então. A curva, desde então, está apontando para uma estabilização na idade máxima que alguns seres humanos já atingiram.

De acordo com eles, é improvável que alguém viva muito mais do que viveu Jeanne Calment, a pessoa mais longeva já registrada, que morreu em 1997 aos 122 anos. A população mundial teria que ser 10.000 vezes maior para que alguém chegasse a 126 anos, segundo os cálculos conduzidos por eles no estudo.

Qual a origem biológica do limite
Os cientistas não sabem exatamente porque esse limite existe. Pode ser, sugerem, um subproduto indesejado da programação genética do ser humano para a maneira como nos desenvolvemos, crescemos e reproduzimos - não se trata de uma programação genética que “desliga” o corpo em determinado momento. Seria uma espécie de “prazo de validade” ou “fim da recarga” de alguns componentes celulares, por exemplo.

Ou seja: para aumentar nossa expectativa de vida, não bastaria combater as doenças que surgem na terceira idade - seria preciso alterar geneticamente os limites dos sistemas genéticos que controlam, na origem da vida, nosso desenvolvimento e crescimento. E há uma variedade muito grande de genes que determinam essas características.

“A questão crucial, agora, é quanto tempo de vida podemos ganhar de fato com tecnologia médica. Com traços [biológicos] que fixam nosso tempo de vida, estaríamos tentando ultrapassar uma barreira intransponível.”
Jay Olshansky - Pesquisador especializado em envelhecimento da Universidade de Illinois, em Chicago

Não é a primeira vez que a ciência sugere que o corpo humano tenha uma limitação intransponível na longevidade. Ainda assim, cientistas da área explicam que pesquisas para levar a duração da vida humana mais longe precisam continuar.

“Ainda não sabemos qual será o impacto de novos remédios, novas tecnologias. O passado não prevê o futuro quando falamos de tecnologia. O objetivo das nossas pesquisas [em longevidade] não é manter as pessoas em asilos por mais tempo. É mantê-las longe dos asilos por mais tempo.”
David Sinclair - Pesquisador em envelhecimento da Faculdade de Medicina de Harvard

É a linha de pensamento do pesquisador brasileiro Sidarta Ribeiro: em entrevista em vídeo ao Nexo, ele declara que o caminho para aumentar a longevidade humana para 300 ou 400 anos é avançar no combate às doenças de risco na terceira-idade, ao câncer e a própria "data de validade" dos organismos que fazem nosso corpo funcionar.

Além disso, ainda que haja um limite biológico que sejamos incapazes de contornar, as pesquisas em envelhecimento tem um papel importantíssimo: o desenvolvimento de terapias para aumentar a qualidade de vida de idosos, por exemplo.

Envelhecimento e saúde
Jeanne Calment é uma exceção, mas os avanços tecnológicos e de saúde no último século fizeram com que a expectativa média de vida aumentasse no mundo todo. Nos EUA, por exemplo, o norte-americano médio vivia 50 anos no começo do século 20. Hoje, ele vive 80 anos.

O envelhecimento não é considerado uma doença - é uma característica inevitável de toda a vida humana. No entanto, envelhecer é uma condição de risco para uma grande lista de doenças: problemas cardíacos, câncer, artrite, síndrome de Alzheimer são algumas delas.

Por isso, alguns cientistas acreditam que encontrar maneiras de reverter essas doenças uma por uma é um dos caminhos para combater o envelhecimento - e a morte.

“Sempre soubemos que o corpo acumula dano. A única maneira de curar o envelhecimento é encontrar maneiras de reparar esses danos. Eu costumo pensar que esses tratamentos seriam medicina preventiva para condições relacionadas ao envelhecimento.”
Aubrey De Grey - Diretor científico do instituto SENS, que faz pesquisas para combater o envelhecimento

A busca da longevidade
Em oposição ao estudo publicado na “Nature”, pequisadores dizem que estaríamos subestimando o poder da tecnologia e da ciência ao assumir que os fatores que conhecemos são os únicos determinantes para tecnologias do futuro, ainda desconhecidas.

As expectativas sobre a evolução das pesquisas nessa área aumentaram, nos últimos anos, com pesquisas que foram capazes de aumentar o tempo de vida de algumas espécies por meio de drogas específicas ou manipulação genética.

Uma pesquisa de 2015, por exemplo, descobriu que uma droga para diabetes é capaz de aumentar em até 40% a longevidade em ratos - e de melhorar a saúde deles na velhice.

Iniciativas como o Calico, instituto de pesquisas financiado pelo Google, e o instituto Sens, na Califórnia, concentram fundos de financiamento científico no desenvolvimento de drogas e terapias focadas em aumentar nosso tempo de vida.

Fonte: Nexus (07/10/2016)

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