Conversa nº 11
Conversa de hoje: Recordando a trajetória do PAMA e do PCE
São dois amigos: Zé aposentado e Seu
ajuda. Esse é o apelido deles. Não são tão jovens assim. Ambos trabalharam anos
em telecomunicações e se aposentaram pela Fundação Sistel. Zé aposentado é do
tipo descansado. Quer apenas o dinheirinho no banco, todo final do mês e ir ao
médico quando precisa. Seu Ajuda é o preocupado. Vive acompanhando tudo que
trata de aposentadoria e de plano de saúde.
Aqui a continuação da conversa que eles iniciaram no começo do ano,
sobre PAMA e PAMA-PCE com uma revisão histórica do plano assistencial da
Fundação Sistel mostrando como os assistidos estão pagando cada vez mais,
indevidamente, para ter seu Plano de Saúde..
Zé aposentado – Bom dia. O chimarrão já vai sair, Seu Ajuda.
Seu ajuda – Ótimo! chimarrão é bom para a digestão. Ajuda até a
digerir o que fizeram com o PAMA – Plano de Assistência Médica ao Aposentado. Hoje,
vamos continuar nossa conversa anterior.
Zé aposentado – Onde nós paramos?
Seu
Ajuda - Nós paramos na ação judicial, ganha, em 2001, pela
Federação Nacional das Associações dos Aposentados – FENAPAS que questionou a ideia
da criação, pela Fundação Sistel, que é comandada pelos patrocinadores, de uma
nova entidade assistencial, mudando as regras do PAMA.
Zé aposentado – De que ação estamos nos referindo?
Seu ajuda – Caso você
queira consulta-la, trata-se da ação inicial 2001.001.107235-1.29/10/2001
Fenapas contra a Sistel, na 2ª Vara Empresarial RJ.
Zé aposentado – Qual foi o conteúdo da sentença do juiz?
Seu ajuda – No seu âmago, a sentença que a FENAPAS ganhou na
Justiça, contra a Sistel, expressou três coisas. A primeira foi reconhecer o
direito adquirido dos aposentados e assistidos de usufruírem do PAMA, tal como ele
foi constituído.
Zé aposentado – Entendi. O PAMA, tal qual a suplementação, são direitos
adquiridos. Não podem ser cancelado. Mas o SUS e o INSS também não podem ser
cancelados. Qual a segunda coisa, da
sentença do juiz?
Seu ajuda – Considerou
ilegal a criação de uma nova entidade: Sistel
Assistencial. Foi contra a transferência de recursos comuns dos aposentados
para garantir o funcionamento do PAMA.
Zé aposentado – E a terceira coisa da sentença?
Seu ajuda – A Sistel deve providenciar a transferência de
valores para o Fundo de Compensação e Solvência,
até suprir um eventual déficit do PAMA.
Zé aposentado – O que aconteceu, na prática, com o PAMA, depois de
2001?
Seu ajuda – O PAMA - Plano de Assistência Médica ao Aposentado
ficou inviável para muitos dos assistidos. Como exemplo, em 2004, cerca de dez mil assistidos e seus
dependentes foram suspensos ou tiveram que sair do PAMA por falta de pagamento.
Zé aposentado – Qual a razão desse alto nível de inadimplência no PAMA?
Seu ajuda – Os assistidos e seus dependentes não conseguiam
pagar a co-participação ,em eventos médicos de alta complexidade. Vale dizer
que os custos com cirurgiões, anestesistas e hospitais – que são muito altos –
mesmo na base da coparticipação ficaram inviáveis para os assistidos e seus
dependentes.
Zé aposentado – Como se procurou estancar essa verdadeira hemorragia dos
assistidos pelo PAMA?
Seu ajuda – A Sistel ofereceu aos assistidos usuários do PAMA, um
Programa de Coberturas Especiais – PCE. Nessa
solução, não foram os patrocinadores que colocaram recursos novos, como preconizava
a Lei, e sim foram os assistidos que passaram a pagar uma contribuição mensal
fixa para o PCE.
Zé aposentado – Aqui está mais água quente para seu chimarrão, Seu
ajuda. Fale-me mais sobre esse tal Programa PCE.
Seu Ajuda agradece a Zé aposentado pelo chimarrão. Sorve,
com gosto, o mate quente que está na cuia amarela cujo líquido lhe sobe á boca através
de uma bombilha de prata trabalhada com anéis dourados. A seguir, ele explica:
Seu ajuda – O Programa PCE é um subconjunto do Plano do PAMA.
Todo assistido pelo Plano previdenciário PBS-A é do PAMA e se tiver aderido
“voluntariamente” é do PCE.
Zé aposentado – Então, os assistidos do PBS-A e seus dependentes
tiveram, a partir de 2004, a opção entre o Plano PAMA e o Programa PCE?
Seu ajuda – Sim.
Zé aposentado – Por que alguém optaria ficar apenas com o PAMA ou, ao
invés, entraria para o programa PCE?
Seu ajuda – Quem estiver no Plano PAMA paga mensalmente uma
pequena taxa de administração e paga uma co-participação nos serviços médicos
que utilizar, inclusive em cirurgias e despesas hospitalares. Se ele não
utilizar o PAMA, naquele mês, só pagará
a taxa de administração que é bem pequena.
Zé aposentado – E quem tiver aderido “voluntariamente” atraído pelo
Programa PCE?
Seu ajuda – Quem estiver no PCE, paga uma contribuição mensal fixa – utilize ou não o Plano -- além de coparticipação em consultas e exames médicos. Em compensação,
em eventos de alto custo, como cirurgias, internações e despesas hospitalares, ele
não paga a co-participação.
Zé aposentado – Não é uma certa ilusão dizer que o assistido não paga
coparticipação nos eventos cirúrgicos, se todo o mês ele já pagou uma
contribuição, utilize, ou não, o Plano?
Seu ajuda – De certa forma, sim. Não existe almoço de graça,
Zé.
Zé aposentado – Se eu entendi, quem aderiu ao PCE, paga uma
contribuição mensal fixa que lhe dá cobertura para não ter que pagar a
coparticipação em cirurgias e despesas hospitalares?
Seu ajuda – Sim. O Programa PCE atua como um se fosse um seguro
para as despesas especiais (cirurgias e despesas hospitalares) que o assistido pode
ter. Você paga mensalmente uma quantia fixa, utilize ou não o programa, para
não precisar desembolsar uma coparticipação que pode ser alta, em cirurgias e
despesas hospitalares.
Zé aposentado - Se os
patrocinadores contribuíssem com recursos, tal como deveriam, haveria
necessidade da contribuição mensal – que sempre é crescente – para o PCE?
Seu
ajuda – Não
sonha Zé. Os patrocinadores, apesar do nome derivado de pater (pai), nunca vão desembolsar recursos novos para custear o
plano assistencial dos assistidos do PBS-A.
Zé aposentado – E do ponto de vista do equilíbrio financeiro como se
comportam o Plano PAMA e o Programa PCE?
Seu ajuda – O PAMA deveria ser custeado pelas patrocinadoras visando as coberturas médicas. O PCE seria custeado pelas contribuições, mensais, dos
participantes, visando as coberturas das coparticipações dos assistidos que são menores para quem adere ao Programa, chegando a ser nulas nos casos de cirurgia e
despesas hospitalares.
Zé aposentado – Quais as regras da contribuição mensal do Programa PCE?
Seu ajuda – A contribuição mensal do Programa PCE é
proporcional ao benefício global (INSS e suplementação) de cada assistido. O
assistido que ganha mais contribui mais, mensalmente, para pertencer ao Programa
PCE. Se pagar o PCE não fosse injusto, esse escalonamento do pagamento seria
justo.
Zé
aposentado – A contribuição mensal para pertencer ao PCE pode sofrer reajuste?
Seu ajuda – Pode. O reajuste anual da contribuição deveria
– mas isso na prática não acontece – acompanhar o mesmo índice do reajuste da
suplementação. Ainda se prevê para o PCE um reajuste trienal da contribuição
mensal, a partir de uma avaliação atuarial.
Zé aposentado – Como evoluiu, na prática, o custeio do Plano PAMA e do
Programa PCE?
Seu ajuda – Mal, para os assistidos. Os patrocinadores não
desembolsaram o que deveriam para sustentar o PAMA. Na prática, foram as
contribuições mensais dos assistidos que aderiram ao PCE, que mantiveram o
Fundo Garantidor do PAMA, desde 2004 até 2012, sem que os patrocinadores
arcassem com as despesas crescentes.
Zé aposentado – E que aconteceu de importante para os assistidos, em
2012?
Seu ajuda – Em 2013, os assistidos pelo Programa PCE foram
surpreendidos por um reajuste abusivo das contribuições mensais, superior ao
previsto no Regulamento. A bem da verdade, esse elevado reajuste na
contribuição mensal do PCE, nunca foi explicado convincentemente pela Fundação
Sistel, apesar dos múltiplos pedidos de informação dos assistidos.
Zé aposentado – Mas o reajuste do PCE não deveria ser proporcional ao
reajuste da suplementação, como previsto no Regulamento?
Seu ajuda – Deveria Zé, mas infelizmente não foi.
Zé aposentado – Me dê uma ideia dos números dos aumentos abusivos da contribuição dos assistidos
para o Programa PCE?
Seu ajuda – De 2012 a 2014, as contribuições do PCE aumentaram
141%, enquanto que as suplementações foram corrigidas em apenas 18,9%. Se sua
contribuição para o PCE era de R$200,00 ela passou para R$482,00 ou seja mais
que dobrou.
Zé aposentado – O que esse aumento nas contribuições mensais do PCE
significou para os assistidos?
Seu ajuda – Significa menos renda líquida, todo o mês, para o assistido
que aderiu ao Programa PCE. E se ele
tivesse ficado apenas no PAMA seria ainda pior, caso ele tivesse que sofrer alguma
cirurgia.
Zé aposentado – Então,a situação do Plano PAMA e do Programa PCE para o assistido é “se correr o bicho pega
e se ficar o bicho come”?
Seu ajuda – É por aí, Zé aposentado. Quem mandou você envelhecer
e necessitar de mais cuidados com a sua saúde?
Zé aposentado – Então quem sustenta e sustentou o Fundo Garantidor do
PAMA foram as contribuições, cada vez maiores, dos assistidos do programa PCE,
sem que os patrocinadores arcassem, como deveriam, do custeio das despesas
crescentes?
Seu ajuda – Sim.
Zé aposentado – Como reagiu a FENAPAS?
Seu ajuda – Ela moveu uma ação na Justiça, contra os aumentos
abusivos das contribuições. Exigiu que as patrocinadoras cumprissem o
regulamento do PAMA e fizessem os devidos aportes financeiros para cobrir o
déficit anunciado, no Fundo Garantidor do PAMA.
Zé aposentado – A Fundação Sistel fez cumprir o que determina o Plano
de Benefícios PBS-A e cobrou dos patrocinadores, o aporte de recursos
necessários para evitar o Fundo Garantidor do PAMA?
Seu ajuda – Não fez.
Zé aposentado – O que fez a Sistel?
Seu ajuda – Antes eu quero lembrar para você Zé, que quem
comanda a Fundação Sistel são os patrocinadores que são majoritários no
Conselho Deliberativo da entidade. O Conselho Deliberativo para evitar o
déficit no Fundo Garantidor do PAMA decidiu transferir recursos da Reserva
Especial do PBS-A, acumulados desde 2009, para o PAMA.
Zé aposentado – Me explica melhor, seu Ajuda.
Seu ajuda – Vamos explicar, na nossa próxima conversa. Já
falamos muito hoje, e o chimarrão, até esfriou.
Fonte: Jornalista Fonseca (02.05.2016)
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