terça-feira, 1 de março de 2016

TIC: Dívida da Oi é negociada com desconto de 70%, indicativo que um calote por parte da operadora esteja próximo


A Oi, aos olhos dos investidores do mercado de dívida corporativa, tem capacidade de pagar os compromissos só deste ano. Depois disso, os riscos passam a ser expressivos, indicam os preços dos papéis. Na bolsa, o valor da concessionária de telecomunicações que cobre 26 dos 27 estados da federação foi a R$ 1 bilhão.  

Os 'bonds' e 'notes' emitidos no mercado global, com vencimento entre 2017 e 2025, foram negociados ontem por 40% e até 30% de seu valor de face - ou seja, um desconto de até 70%. E alguns papéis foram a 27,5% do preço original - indicando a avaliação de que um 'calote' é um risco real, na perspectiva desses investidores.  

A deterioração está acelerada. Os títulos do próximo vencimento - € 400 milhões, em julho - eram negociados a 70% do preço de emissão. Na semana passada, os mesmos tinham preço equivalente a 90% do valor de face, antes que o fundo LetterOne, do bilionário russo Mikhail Fridman, informasse que não era possível buscar uma fusão com a TIM Brasil, após uma negativa da Telecom Italia.  

O nervosismo do mercado reflete a expectativa de que o conselho de administração da Oi anuncie uma reestruturação de dívida, diante da dificuldade no diálogo com os italianos. Com uma fusão, o fundo de Fridman injetaria US$ 4 bilhões na tele. Reunido desde o início da tarde de ontem, o colegiado foi até perto das 22h, mas encerrou o encontro sem uma deliberação pronta para anunciar ao mercado, apurou o Valor.  

Há toda sorte de especulações no mercado, de aumento de capital - com e sem conversão de dívida - até a simples contratação de um assessor para iniciar o estudo da reestruturação, pois os próximos vencimentos ocorrem só no segundo semestre.  
Os vencimentos totais da Oi deste ano somam R$ 11,5 bilhões, conforme balanço de setembro - quando tinha R$ 16 bilhões em caixa. Em fevereiro, foram honrados cerca de € 550 milhões.  
A Oi fechou setembro com dívida bruta de R$ 61 bilhões - 75% de emissões no mercado internacional. Esse total, descontada a cobertura cambial, era de R$ 53 bilhões. A empresa tem R$ 4,8 bilhões em dívidas com bancos de fomento - BNDES e outros - e R$ 6,8 bilhões com bancos comerciais.  

A Oi foi controlada pela Andrade Gutierrez e Grupo La Fonte (família Jereissati) até o começo de 2015, em sociedade com BNDES e fundos de pensão de estatais Previ (Banco do Brasil), Petros (Petrobras), Funcef (Caixa Econômica Federal), Sistel (antiga Telebrás). Entre 2010 e 2014, também esteve no bloco de controle da operadora a Portugal Telecom. Agora, o capital está pulverizado, mas o grupo português ainda tem a maior fatia.  

Desde 2000, a Oi, antes Tele Norte Leste Participações e Telemar Norte Leste Participações, pagou R$ 10,87 bilhões em dividendos, conforme levantamento do Valor Data. Do total, R$ 6 bilhões saíram do caixa de 2011 a 2013. A partir de 2014, os proventos foram suspensos.  
De 2011 até setembro deste ano, a tele investiu nada menos do que R$ 21,4 bilhões, segundo cálculos do Valor Data. 

Embora a dívida tenha dado um saldo desde 2013, quando o valor bruto era de R$ 34 bilhões, analistas apontam que a situação da Oi é resultado do comportamento dos controladores ao longo de muitos anos. São categóricos em dizer que desde 2006 é de conhecimento público que os donos da Oi não tinham planos de longo prazo para o setor de telefonia. Naquele ano, fracassaram ao tentar uma ruidosa e polêmica reorganização societária, mas deixaram um claro recado ao investidor: queriam sair com prêmio.  

A partir de então que vieram os movimentos mais "caros" ao futuro da Oi. Em 2008, a tele fez uma dívida de R$ 11 bilhões para pagar R$ 13 bilhões pela da Brasil Telecom (BrT) - após decreto presidencial mudar a Lei Geral de Telecomunicações. O negócio chegou junto com um passivo não previsto de R$ 3 bilhões.  
Em 2012, mais de R$ 2 bilhões foram gastos com direito de recesso numa reestruturação para unir a base de acionistas de BrT. O desembolso não estava previsto.  
E, em 2014, veio o impacto mais significativo: a tentativa de fusão com a Portugal Telecom. Na operação, os controladores brasileiros e a PT deixaram à tele R$ 4,5 bilhões de dívidas que tinham na holding controladora. Da Europa, a PT trouxe € 5,5 bilhões em dívida. E, por fim, foi descoberta uma fraude da operação portuguesa que sumiu com € 897 milhões do caixa.

Fonte: Valor (01/03/2016)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

"Este blog não se responsabiliza pelos comentários emitidos pelos leitores, mesmo anônimos, e DESTACAMOS que os IPs de origem dos possíveis comentários OFENSIVOS ficam disponíveis nos servidores do Google/ Blogger para eventuais demandas judiciais ou policiais".