O DRAMA DO PAMA
Coitado do aposentado! Por anos trabalhara em uma Empresa
onde se sentia tranquilo; tinha plano de saúde e pagava para ter uma
aposentadoria complementar. Quando se aposentou, reduziram seu benefício em 10%
para que ele mantivesse o plano de saúde.
Agora, idoso e
doente, tinha um plano de saúde com uma alta coparticipação.
Ouvira dizer que o superávit do plano previdenciário havia
sido transferido para o plano de saúde. Bem, agora terei um plano de saúde de
verdade, pensou. Devem acabar com esta absurda situação de ter que pagar altos
valores nos internamentos hospitalares. Afinal, o superávit transferido era de
bilhões de reais.
Seu nome não interessa; podia chamar-se João ou José, mas para
facilitar vamos chamá-lo de Pedro. Pedro Antônio Maranhão de Albuquerque, vulgo
PAMA.
O Pedro gostava de uma picanha mal passada acompanhada de
uma cervejinha gelada, na companhia dos filhos, noras e netos. E num sábado
modorrento na companhia da família e, no exato intervalo entre uma mastigada de
picanha e um gole de cerveja, começou a enrolar a língua e falar meio
atrapalhado. Putz, bebi demais, pensou. Olhou para a cara de poucos amigos da
patroa e viu um ar de desaprovação. Bem, agora a megera vai começar o discurso,
pensou novamente.
Apoiou-se na mesa para levantar, colocou a mão no peito,
tentou respirar fundo e falou meio enrolado: “Não estou me sentindo bem”. “Vamos levá-lo ao hospital, gritou alguém”.
Embora achassem que nada de grave estava acontecendo,
colocaram o Pedro no carro e o levaram para o Pronto Socorro.
Ficaram aguardando em uma sala enquanto Pedro era examinado.
Depois de certo tempo, a esposa de Pedro começou a se preocupar. Por que estava
demorando tanto?
A tarde já ia se despedindo e as cores douradas do
crepúsculo já se faziam presentes quando uma enfermeira veio conversar com a
família. Pedro tinha sofrido um enfarte, mas tudo já estava sob controle. Não
precisavam se preocupar, pois no dia seguinte Pedro seria liberado.
Porém, não era tão simples como disseram e Pedro acabou
ficando internado por uma semana e teve que fazer uma ponte de safena.
Pedro saiu todo satisfeito do Hospital. Era um homem novo. Levou um susto, é verdade,
mas agora tudo estava resolvido.
Tudo ia muito bem até que... chegou o boleto de cobrança do
plano de saúde e Pedro quase caiu de costas. Estavam lhe cobrando os 40% de
coparticipação das despesas hospitalares. Quase 50 mil reais. De onde Pedro ia
tirar esta fortuna? Somando o benefício do INSS mais o que ele ganhava de
previdência complementar mal dava uns 2 mil reais. Tentou parcelar o valor, mas
isto não era mais possível; haviam cortado o financiamento.
Dois meses depois, sem nenhuma condição de resolver o
problema, Pedro recebeu o comunicado que seu plano de saúde estava cancelado.
Agora Pedro, além de velho e doente, não tinha mais plano de saúde e nem
superávit.
Meses depois, recebeu uma visita indesejada. Um Oficial de
Justiça bateu em sua porta com uma intimação para comparecer em uma Vara Cível.
Estavam lhe cobrando judicialmente o valor da coparticipação.
Reuniu a família para trocar ideias e no meio da conversa apoiou-se
na mesa para levantar, colocou a mão no peito, tentou respirar fundo e falou
meio enrolado: “Não estou me sentindo bem”.
“Vamos levá-lo ao hospital, gritou alguém”.
“Não, ao hospital não, lembrem-se da coparticipação”.
Coitado do Pedro Antônio Maranhão de Albuquerque, vulgo PAMA.
Era tão gente boa.
Fonte: Autor desconhecido (29/02/2016)
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