terça-feira, 27 de outubro de 2015

Fundos de Pensão: Não é somente os fundos de pensão de estatais que estão no sufoco. Mantra do maior fundo de pensão privado é 'esperar, ver e rezar'


No Brasil, mantra do maior fundo de pensão privado é 'esperar, ver e rezar'
 

O maior fundo de pensão privado do Brasil está ficando sem opções de investimento.
Diante de uma queda significativa no valor de títulos locais, desempenho de ativos de renda variável baixo e poucas perspectivas de recuperação em breve, a Fundação Cesp, que tem 23,2 bilhões de reais em ativos, descumprirá sua meta autorial pelo terceiro ano consecutivo em 2015. As perspectivas para 2016 não são muito melhores, segundo o presidente do fundo, Martin Glogowsky. O país enfrenta sua recessão mais longa desde a Grande Depressão, a inflação mais alta em 12 anos e as taxas de juros mais elevadas desde 2006.


A Funcesp não enxerga muitos ativos atrativos disponíveis para investidores de longo prazo no momento, mesmo com o valor nominal do Ibovespa em cerca de metade da média das ações de mercados estrangeiros e após uma venda generalizada de títulos públicos neste ano. As ações dos bancos estão próximas do nível mais barato em mais de uma década, mas o diretor de investimento da Funcesp, Jorge Simino, acha que os preços podem cair mais. As ações estrangeiras que poderiam eventualmente defender o fundo da turbulência no Brasil estão caras demais após o real cair a um nível recorde neste ano. O fundo já mantém 20 por cento de seus ativos nos investimentos de curto prazo mais seguros e estuda ampliar essa porcentagem.


"A volatilidade é enorme, absolutamente enorme", disse Glogowsky, em entrevista na semana passada no escritório da Bloomberg em São Paulo. "Você pode se sair bem em um mês e no outro simplesmente afundar".


Todo esse pessimismo foi primordial em como Simino decidiu colocar o dinheiro para trabalhar no Brasil na atualidade.


É "esperar, ver e rezar", diz ele. "Uma nova abordagem para o investimento".


Meta alta
O fundo, que gerencia contas de aposentadoria de trabalhadores de 10 empresas brasileiras de eletricidade, espera registrar um retorno total de cerca de 10 por cento neste ano, abaixo de sua meta de 15,5 por cento. Embora a desaceleração da inflação no ano que vem deva reduzir sua meta para cerca de 11 por cento, este provavelmente ainda é um patamar muito alto dada a perspectiva para o país, disse Simino.
Em meio às projeções do maior déficit orçamentário desde 2002 e a uma crise política que paralisou o governo, os investidores estão pessimistas em relação às chances de o Brasil restaurar o crescimento rapidamente. A queda de 32 por cento do real em relação ao dólar neste ano ajudou o Ibovespa a registrar o pior desempenho do mundo entre os principais índices acionários. O Brasil foi cortado para junk (grau especulativo) pela Standard Poor's no mês passado, enquanto as outras duas principais agências de classificação mantêm o país no limiar da perda de seu grau de investimento.
O fundo, com sede em São Paulo, é o maior fundo de pensão do país não conectado a uma empresa estatal e gerencia o dinheiro de cerca de 15.000 trabalhadores em atividade e 31.000 aposentados. A renda fixa representa cerca de 80 por cento de seu portfólio de investimentos e as ações respondem por 12 por cento, com o restante dividido entre imóveis e empréstimos aos seus membros.


Metas descumpridas
A Funcesp não é o único fundo de pensão brasileiro com retornos que ficam abaixo das metas. Em média, os fundos do país descumpriram suas metas em 2013, em 2014 e nos seis primeiros meses deste ano, segundo a associação de fundos de pensão.
No período de 10 anos até 2014, a Funcesp registrou um retorno de 305 por cento, contra uma meta de 198 por cento, segundo seu site.
O Congresso brasileiro dividido e os esforços para aprovação do impeachment da presidente Dilma Rousseff estão atrasando as medidas fiscais que restaurariam a confiança e são os piores problemas do país sob a perspectiva dos investidores, segundo os gestores da Funcesp. Mas o Brasil passou por crises antes e se recuperará desta também, disseram Glogowsky e Simino.
"Podemos dizer que já vimos esse filme antes, porque passamos por situações piores", disse Glogowsky. "Mas hoje eu acho que a questão política está tomando conta".


Fonte: Bloomberg (27/10/2015)

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