domingo, 13 de setembro de 2015

Comportamento: A estória do telefônico Francisco e sua vida de aposentado em telecom


Depois de muitos anos de trabalho, Francisco se aposentou. Vou aproveitar a vida, pensou. Viajar bastante, morar na praia, conviver mais com meus familiares, esposa, filhos e netos.

Sentia-se realizado. Foram mais de trinta anos trabalhando, subindo em postes, esticando cabos, subindo nos morros das repetidoras de micro-ondas, tomando chuva, passando calor, sofrendo com o frio, dias e dias longe de seus filhos pequenos. Mas tinha valido a pena. Com seu trabalho tinha contribuído para o bem estar de comunidades isoladas, colaborando para que as pessoas pudessem se comunicar, além do progresso que sempre acompanhava as linhas de comunicação, os postos de serviço telefônico, os orelhões, as centrais telefônicas, os sistemas rurais e depois, as linhas de dados.

Cauteloso, havia contribuído para ter uma previdência complementar. Durante anos, parte do que ganhava era descontada para garantir o seu futuro. E tinha um plano de saúde; nos mesmos moldes de quando estava na ativa. Assim, ele e sua família podiam estar despreocupados e gozar o “dolce far niente” da aposentadoria.

Infelizmente, com o passar do tempo tudo mudou. Sua Empresa foi privatizada e os novos grupos proprietários do sistema só tinham uma preocupação: o lucro! Aquele plano de saúde ia ficando cada vez pior e o coitado do Francisco, infelizmente, teve um problema de saúde e foi internado em um hospital para fazer um procedimento de implantação de um marca-passo.

Ainda bem que tudo correu bem e o Francisco, uma semana depois, já estava inteiraço e pronto para novas aventuras.

No final do mês, quando abriu o contracheque, Francisco recebeu também o boleto de cobrança do plano de saúde. Quase caiu de costas, passou mal, a pressão subiu e tiveram que levá-lo novamente para o Hospital. O valor do boleto era altíssimo, quase R$ 120.000,00. Era a tal da coparticipação que estava sendo cobrada.  Quase 40% do total das despesas hospitalares.

Claro que o Francisco não pode pagar tal valor. Tirar dinheiro de onde? Acabou sendo inscrito no SPC e na SERASA e a Fundação ameaçou impetrar uma ação judicial de cobrança e ainda cancelou o plano de saúde. Foi tratado como mau pagador, velhaco e seu único crime foi ter ficado doente.

Cabisbaixo, Francisco resolveu dar uma caminhada pela praia. Preocupado com sua situação deixava que a espuma da água beijasse seus pés enquanto pensava em uma solução para o problema. Foi quando sentiu sob os seus pés algo metálico. Olhou e viu que se tratava de uma velha lâmpada. Passou a mão para retirar a areia e... Puff! Um gênio surgiu de dentro da lâmpada. E como na velha história que todos nós já conhecemos o gênio concedeu-lhe um pedido. Um só porque hoje tudo tem que ser muito rápido e o gênio tinha um encontro marcado com um tal de Aladim, cujo endereço ele não sabia e ainda ia pesquisar no Google.

Francisco pensou rápido e achou que merecia ir para um lugar bem sossegado, mas tinha medo de viajar de avião.

- Seu Gênio, eu queria ir para Fernando de Noronha. Será que daria para o senhor construir uma ponte do norte do Brasil até lá?

- Cê tá ficando louco? Sou gênio, mas não faço parte do Lava-Jato. Isto custaria uma fortuna, uns dez por cento do buraco do déficit público, algo aí de uns três bilhões de reais, mais os dez por cento de propina para as construtoras, além dos entraves burocráticos, autorização da Marinha, licença do Ibama, aprovação da PREVIC, etc. Peça outra coisa, maluco.

- Bem, seu gênio outra coisa que me aflige é o meu plano de saúde. Será que não dá para o senhor dar um jeito nele? Diminuir a coparticipação, reduzir a mensalidade, não permitir reajustes abusivos, melhorar a rede credenciada, fazer com que as Empresas cumpram o que está no Regulamento, que haja uma negociação justa, que eles não queiram tirar proveito da situação utilizando superávits do plano previdenciário...

- Pode para... Pode parar... Não complique. Diga para mim, aquela ponte para Fernando de Noronha, pode ser só em duas vias simples ou tem quer ser mão dupla?

Aff! Vida difícil esta de Aposentado.

Colaboração: Cleomar Gaspar (13/09/2015)

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