terça-feira, 19 de maio de 2015

Planos de Saúde começam a conceder descontos e vantagens para usuários que perdem peso e participam de programas preventivos


Planos de saúde têm oferecido descontos na mensalidade e prêmios —como notebooks e viagens internacionais mais baratas— para incentivar seus usuários a perder peso, fazer exercícios e adotar hábitos saudáveis. 
Há atualmente no Brasil cerca de 1.300 programas de promoção à saúde e de prevenção a doenças, que atingem 1,6 milhão de beneficiários —pouco mais de 3% do total de usuários dos planos. 
Desses, 300 oferecem premiações ou bônus como redução de 10% na mensalidade, segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar. 
Para ganhar os benefícios, os clientes precisam ir a consultas, participar de palestras e, em alguns casos, se submeter a avaliações periódicas. 
Além de reduzir custos, os planos que adotam programas preventivos ganham pontos e podem melhorar a nota no ranking de avaliação da ANS —que é público. 
A prevenção da obesidade e das doenças associadas a ela, como diabetes e hipertensão, tem sido um dos principais focos dos programas. 

Dados da Vigitel, pesquisa do Ministério da Saúde que monitora os fatores de risco para a saúde, mostram que o sobrepeso atinge até 67% dos usuários de planos —moradores em capitais do país. A obesidade chega a afetar 42%. 
O mesmo estudo dá pistas sobre as causas dessa epidemia: até 53% das usuárias tomam refrigerante cinco ou mais vezes por semana. Entre os homens, 48%. 

Custos 
Estudos mostram que, a cada 1% de redução no peso, na pressão arterial e nos níveis de glicose, há uma economia entre US$ 83 a US$ 103 em despesas médicas por pessoa. 
"Todos ganham com programas preventivos: a população [que fica menos doente] e os sistemas de saúde, que reduzem custos", diz Katia Audi, gerente de monitoramento assistencial da ANS. 
A agência incentiva os programas e, em parceria com a Opas (Organização Pan-Americana da Saúde), está avaliando a eficácia deles. 
Katia aprova a premiação, mas diz que não pode ser o único caminho. "Tem que trabalhar a consciência." 
Uma revisão de 34 estudos internacionais concluiu que, embora os programas de incentivo mudem comportamentos de saúde a curto prazo, os efeitos positivos tendem a desaparecer quando os benefícios são cortados. 
Por isso, os pesquisadores aconselham que o bônus seja atrelado a medidas mais concretas, como a realização de exames preventivos —em vez de uma mudança de comportamento a longo prazo. 

A Intermédica prioriza os incentivos em um programa para gestantes. Dá notebooks, bolsas e ingressos de cinema às mães que fazem pré-natal corretamente, amamentam o bebê no peito por mais tempo e mantêm em dia a carteira de vacinação do filho. 
A dona de casa Andrênia Cintia da Silva Barbosa, 40, ganhou no início do ano um notebook por ter seguido as recomendações. Nas três gestações anteriores, ganhou até 20 kg, teve hipertensão e perdeu uma filha aos sete meses de gestação. Na última gravidez, teve também diabetes. 
"O melhor foi fazer a coisa certa para não prejudicar meu filho. Fiz dieta e só ganhei oito quilos", diz. 
Na opinião do clínico-geral Walter Moschella, especialista em medicina preventiva, a gestação é um período em que as mulheres estão sensibilizadas e tendem a mudar hábitos com mais facilidade. 
No entanto, mudanças de comportamento de obesos são mais difíceis de serem mantidas, segundo ele. "Não é dando um notebook que vamos atingir as causas emocionais, familiares, metabólicas e físicas da obesidade." 

Após prêmio na gravidez, mãe tenta emagrecer 
A funcionária pública Silvana do Carmo, 38, ganhou um notebook no ano passado no programa do plano de saúde que dá prêmio a gestantes com hábitos saudáveis. 
Agora, integra um voltado ao emagrecimento. Ela diz que pesa "mais de 100 kg" e que está motivada a perder pelo menos 20 kg com dieta equilibrada e exercícios. 
"Na gravidez, eu fiz tudo direitinho, mas depois relaxei. No programa, eles trabalham questões emocionais que levam ao ganho de peso." 
Relatório da ANS mostra que os incentivos mais comuns oferecidos pelos planos são brindes, descontos em academias de ginástica, não pagamento de coparticipação em exames e procedimentos e custeio de vacinas. 
A empresa Silvestre Saúde, do Rio, é uma das que dá desconto de 10% na mensalidade dos usuários. Em troca, eles devem comparecer a palestras e consultas médicas agendadas pelo plano, além de aceitar ser monitorado em certos hábitos de vida. 
Após a implantação de um programa voltado a gestantes, a Intermédica diz que houve alta de 38% nas consultas de pré-natal e de 40% na continuidade do aleitamento até o quarto mês. As complicações obstétricas caíram 33%. 
A operadora também oferece brindes, como aparelhos de aferir pressão arterial e balanças, ao usuário que participar de oficinas que incentivam a perda de peso. 

Segundo a ANS, tem até operadora de saúde oferecendo desconto de 50% em viagens para a Patagônia se o beneficiário atingir a condição física adequada para esquiar. 
Com isso, a taxa de participação em programa de promoção à saúde subiu de 25% para 70%, com resultados efetivos de 80%--contra 30% obtidos antes do programa. 
A Amil, em parceria com o Vigilantes do Peso, oferece um programa de emagrecimento voltado aos funcionários. Premia com até R$ 1.000 quem mais perde peso. "Uma colaboradora perdeu 27 kg. Isso incentivou a família toda a adotar hábitos saudáveis", diz Odete Freitas, diretora de sustentabilidade da Amil. A operadora estuda ofertar o programa aos usuários.

EUA adotam estratégia em serviço público 
Nos Estados Unidos, há anos empregadores privados e seguradoras de saúde têm oferecido incentivos financeiros na tentativa de estimular funcionários e usuários a parar de fumar ou a perder peso. 
A mesma estratégia foi adotada pelo Medicaid, o programa público de saúde norte-americano para pessoas de baixa renda. 
Ao menos 12 Estados americanos, entre eles Iowa e Novo México, estão nessa empreitada. No Novo México, por exemplo, os mais de 600 mil beneficiários ganham pontos cada vez que tomam decisões consideradas saudáveis. 
Depois, podem trocar esses pontos por remédios, exames ou tratamentos dentários --que não são cobertos pelo poder público. 
Isabel Juarez, moradora do Novo México, por exemplo, ganhou um bônus de US$ 100 para ser usado em compras de produtos de saúde, como antiséptico bucal, vitaminas, sabonete e pasta dental. 
Como contrapartida, usa um pedômetro, aparelho pequeno e portátil que conta os seus passos o dia todo, e está empenhada em perder peso. 
A adesão a esse tipo de programa pode parecer simples, mas não é. O Estado de Idaho, por exemplo, oferece um bônus de US$ 100 para usuários do Medicaid que se propõem a perder peso ou a parar de fumar, mas só conseguiu menos de 2% de adesão dos adultos elegíveis num período de dois anos. 
Além da resistência natural em mudar o estilo de vida, há também questões mais práticas, como o fato de que muitas pessoas pobres não conseguem ir às consultas médicas ou aos cursos normalmente vinculados a esses programas de incentivos. 
A razão? Não conseguem licença para faltar ao trabalho ou, muitas vezes, não têm dinheiro nem para o transporte até lá. 

Fonte: Folhapress (18/05/2015)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

"Este blog não se responsabiliza pelos comentários emitidos pelos leitores, mesmo anônimos, e DESTACAMOS que os IPs de origem dos possíveis comentários OFENSIVOS ficam disponíveis nos servidores do Google/ Blogger para eventuais demandas judiciais ou policiais".