quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Idosos: Envelhecimento da população poupa o planeta pois dieta deles necessita de menos água e terra para ser produzida


Se toda a população brasileira fosse composta por pessoas de 60 anos ou mais, o Planeta agradeceria. Pelos cálculos do técnico do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Camillo de Moraes Bassi, a dieta menos intensiva em proteína animal dos mais velhos faria o país economizar 14 mil quilômetros quadrados de terra, o correspondente a um terço do Estado do Rio, e 3,5 trilhões de litros de água, o suficiente para atender a 45 milhões de pessoas por um ano. O estudo faz parte do livro “Novo regime demográfico: Uma nova relação entre população e desenvolvimento?”, que o Ipea lança nesta terça-feira.

— A dieta do idoso é menos intensiva em recursos naturais. Se o objetivo é poupar água, deve-se pensar na dieta alimentar. Com o envelhecimento da população, diminui a apropriação de água, de espaço físico e se reduz a emissão de gases de efeito estufa. Essa nova composição etária da população gera padrões de consumo mais sustentáveis — afirma o pesquisador

Para chegar aos números, Bassi separou o consumo alimentar retratado na Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), do IBGE, por idade: de 19 a 59 anos e 60 anos.

— Os mais jovens têm uma alimentação mais concentrada em carne e leite. Para se produzir um quilo de carne bovina são necessários 19 mil litros de água. O sustento de um boi consome 1,5 milhão de litros de água por ano.

O presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, João Bastos Freire Neto, concorda que há uma queda no consumo proteico dos mais velhos, mas alerta que a dieta está aquém do necessário porque o grupo precisa, sim, de muitas proteínas, inclusive as de origem vegetal, que podem substituir as de origem animal.

— Há um problema de subnutrição dos idosos, não só no Brasil, mas no mundo todo. Ofertar uma alimentação de qualidade é um grande desafio — diz.

‘Envelheceram a velhice’
Aos 88 anos, Iva Gomes de Matos tem uma dieta mais frugal. Nordestina, estava acostumada à comida mais pesada do Nordeste, o que criava dificuldades na hora de lidar com as empregadas. Por isso, ela preferiu morar num retiro em Jacarepaguá.

— Vim para o Rio há 47 anos, sempre me acostumei a fazer a comida parecida com a do Nordeste. Mas hoje em dia como mais verduras e frutas.

Se a dieta poupa recursos naturais, os gastos com saúde, por outro lado, crescem. Isso porque entre os mais os idosos há incidência maior de doenças crônicas, que precisam de tratamento contínuo, como diabetes e problemas circulatórios e cardíacos. Mas, como afirma a pesquisadora Ana Amélia Camarano, organizadora do livro, “envelheceram a velhice”, e os idosos estão vivendo mais e melhor. É o caso da pintora Zélia Lopes, de 82 anos. Ela se aposentou da Petrobras aos 54 anos para cuidar do marido doente e se reinventou após a morte dele, há 24 anos. Estudou arte e fez da pintura sua profissão. Hoje, há telas suas espalhadas por várias galerias da cidade.

— Não tomo remédios. Acho que vou precisar agora, por causa da pressão.

 As doenças isquêmicas do coração são as que mais internam e mais custam ao Estado. Elas respondem por 53% do valor gasto nas internações, de acordo com estudo dos pesquisadores Alexandre Marinho, Simone de Souza Cardoso e Vivian Vicente de Almeida, presente no livro. O número de dias de internação atesta que a população idosa é a que mais fica nos leitos hospitalares.

Freire Neto diz que o idoso brasileiro convive, ao mesmo tempo, com as doenças crônicas e com as infectocontagiosas ainda não erradicadas do país, como a dengue. E diz que é preciso criar um calendário de vacinação de idosos que inclua doenças como pneumonia e complicações causadas pelo vírus da catapora:

— Nosso cuidado com o envelhecimento está muito atrasado. Até temos políticas de saúde do idoso bem formuladas, falta saírem do papel. E, se não fizermos isso hoje, como vamos conseguir daqui a 10 ou 15 anos, quando a força de trabalho jovem estará menor e a produção de riquezas, mais restrita?

Fonte: O Globo (18/11/20914)

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