quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Fundos de Pensão: Depois de rombos, participantes ativos e assistidos do Postalis (Correios) pedem intervenção da PREVIC para retirar diretores indicados por partidos políticos

Três associações de funcionários dos Correios anunciaram que vão pedir hoje intervenção da Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc), vinculada ao Ministério da Previdência Social, no fundo de pensão da estatal, o Postalis. As associações argumentam que a gestão política de diretores indicados por PT e PMDB no Postalis levou a "operações suspeitas" que explicariam o rombo de RS 2,2 bilhões acumulado entre 2013 e 2014. 
Maior fundo de pensão do Brasil em número de participantes, com cerca de 140 mil contribuintes,o Postalis tem hoje um patrimônio líquido de R$ 54 bilhões no principal plano do fundo. Dado o valor do déficit, os participantes temem um aumento na contribuição mensal para cobrir o rombo e, mesmo assim, não ter o retomo esperado em suas aposentadorias. 
"Quem perde 25% do patrimônio em dois anos está numa situação muito difícil, que mereceria intervenção externa enquanto ainda, talvez, haja alguma esperança de recuperação", diz uma avaliação feita pelas associações a que o Estado teve acesso. 
O pedido é subscrito pela Associação dos Profissionais dos Correios, a Federação Interestadual dos Trabalhadores dos Correios e a Associação Nacional dos Participantes do Postalis. 

Previ, Petros e outros 
Outro argumento que será usado a favor da intervenção será que os prejuízos da gestão política não atrapalham apenas os contribuintes do Postalis, mas também a Previ (do Banco do Brasil), o Petros (Petrobrás) e outros fundos de estatais. "Trata-se, portanto, de um tema nacional, oportuno no momento em que o País se prepara para escolher seu novo presidente", avalia o documento. 
As associações querem aproveitar o momento em que a relação dos fundos de estatais com partidos está no radar da operação mais notória da Polícia Federal em 2014: a Lava Jato, que prendeu o doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto Costa. A relação foi revelada por uma ex-contadora do doleiro, Meire Bonfim da Silva Poza, em depoimento à PF. 
Entre os "negócios mal explicados" feitos pela cúpula do Postalis, apontam as associações de funcionários dos Correios, está uma operação com o Banco BNY Mellon atribuída a Youssef e ao ex-diretor financeiro do Postalis Ricardo Oliveira Azevedo. O negócio levou, segundo as associações, a prejuízo causado pela troca de títulos da dívida brasileira por papéis argentinos. 
Oliveira se demitiu do cargo em outubro de 2013, após uma investigação do Previc lhe atribuir responsabilidade por prejuízos ao fundo.

Venezuela 
Também estão na lista de maus negócios que aumentaram o rombo, segundo os funcionários, a compra de títulos da Venezuela, de ações de empresas de Eike Batista e da Universidade Gama Filho e Univercidade ambas endividadas e descredenciadas pelo Ministério da Educação este ano. 
Em nota, o Postalis afirmou que a maior parte dos investimentos está em títulos públicos federais com taxas acima da meta de rendimento fixada e que a diretoria presta esclarecimentos, "de forma sistemática", à Previc. A assessoria afirmou que "o Postalis não tem mais em sua carteira nenhum ativo do Grupo X e não trabalha mais com o gestor terceirizado responsável pela realização desses investimentos". 
Sobre as universidades, informou que, após o descredenciamento pelo MEC, "solicitou o vencimento antecipado das parcelas", reconheceu a possível perda "e tomou as demais medidas jurídicas cabíveis para proteger os seus direitos". 

Para Lembrar 
A história recente do Postalis é marcada por diversos questionamentos à forma como seus dirigentes aplicam o dinheiro e por disputas partidárias pelo comando ao fundo. 
Em 2013, o Estado revelou que uma investigação da Previc relacionou o então diretor financeiro do Postalis, Ricardo Oliveira Azevedo, indicado para o cargo pelo PMDB, a investimentos que provocaram prejuízos de R$ 762 milhões. 
Também é questionado o aporte de recursos em fundos geridos pelo Banco BNY Mellon. Em maio deste ano, o jornal O Globo publicou que o valor envolvido nesse caso seria de R$ 40 milhões e que o investimento estaria sendo investigado pela CVM por causa de supostas fraudes. 
Em 2013, quando Eike Batista quebrou, foi a vez de investimentos do Postalis no Grupo X serem questionados. O fundo reagiu dizendo que a decisão de comprar os papéis foi tomada em 2011, quando a aplicação parecia bom investimento. 
Por fim, no início de 2014, o Postalis foi exposto quando o Ministério da Educação descredenciou as universidades Gama Filho e Univercidade. O fundo, com o Petros, dos funcionários da Petrobrás, comprou debentures numa época em que as instituições, já endividadas, tentavam se reestruturar. 
Fonte: O Estado de S.Paulo (20/08/2014)

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