quinta-feira, 8 de maio de 2014

Fundos de Pensão: Como serão os próximos planos de benefício? Tendência é serem de Contribuição Definida com Ciclo de Vida (perfil de investimento varia conforme progressão da idade)

Aos planos existentes, atuário recomenda simular precificação dos investimentos com diversos modelos (marcação pela curva, mercado ou misto) e verificar impactos nos resultados dos planos, tal qual a APOS acaba de solicitar à Sistel, que a está efetivando

Conhecer as tendências é algo geralmente tido como fundamental. E, evidentemente, mais ainda se estas se referem ao que está no centro do nosso negócio. E, como no caso dos fundos de pensão nada é mais central do que os planos de benefícios que administram, fica claro porque tantos especialistas tentam sentir para onde sopram os eventos numa área cujo desempenho é tão vital para as associadas.

“Quando pensamos nisso vemos a atenção que precisamos dar aos planos ciclos de vida e aos direcionamentos dos ativos financeiros correspondentes, a aderência das hipóteses e a precificação de passivos”, resume o atuário Antônio Fernando Gazzoni, Presidente da Gama Consultores Associados. 
Já para Eduardo José Correia, Diretor da Mercer, “ considerando as  tendências mundiais e o fato de que esse modelo de ciclo de vida  pode atender mais satisfatoriamente a um grupo de participantes, a sua difusão parece um caminho inevitável”.

Nas questões relacionadas ao passivo,  Gazzoni foca primeiro nas questões relacionadas a sua precificação e aderência, assim como a gestão do risco atuarial. Gazzoni sublinhou que apesar de a precificação do passivo depender de uma série de hipóteses e premissas, sem sombra de dúvidas a fixação da taxa de juros de desconto atuarial reveste-se de importância, em face dos impactos produzidos por esta hipótese em planos de benefícios que tenham estruturas de benefício definido.

Na linha de oferecer  subsídios ao debate que está sendo travado na Comissão Temática 4, acerca de precificação de ativos e passivos, Gazzoni recomenda demonstrar as alternativas de precificação existentes e os impactos que a adoção de cada uma delas traz no passivo ou mesmo no resultado do plano, gerando  maior ou menor volatilidade.

No que se refere a aderência das hipóteses e premissas, Gazzoni lembrou que de nada adianta avançarmos em precificação de ativo e passivo, estudos de ALM/LDI, orçamento e política de investimentos, se não avaliarmos nosso passivo, primeiro, com hipóteses e premissas aderentes ao plano de benefícios. Estas, por sinal, diz ele,  devem ser propostas pelo atuário do plano com base em estudos técnicos e homologadas pela governança da entidade, como preceitua a Resolução do CNPC 09/12 e a Instrução Normativa da PREVIC 07/13.

Por fim, Gazzoni destaca a importância da adoção da gestão baseada em riscos, com o foco nos assuntos atuariais, como resposta que as entidades  devem dar à supervisão baseada em riscos que o órgão fiscalizador precisa implementar de forma mais disseminada. E, nesse espírito, cada entidade deve adequar o modelo de gestão ao seu porte e aos riscos que cada plano esteja afeto, sendo essencial iniciar o mais breve possível e indispensável o envolvimento de todos os órgãos estatutários.

Eduardo começa lembrando que os  planos de Contribuição Definida tem sido absolutamente prevalentes no Brasil e no mundo nas últimas duas décadas, pelo menos. E vem sofrendo mudanças e adaptações ao longo do tempo, porém sempre mantendo o desafio de maximar a rentabilidade mas controlando os riscos. Isso porque, nos planos CD, de 70% a 80% do fundo é formado pelos rendimentos acumulados, o que torna fundamental uma boa estratégia de investimentos ao longo desse período de 40, 50, e até 60 anos ou mais, se considerarmos a fase de recebimento de benefício na aposentadoria.

Ciclo de vida - Atualmente, notou Eduardo,  muitos planos CD oferecem opções de diferentes perfis de investimentos - fundos mais conservadores, mais agressivos e com risco mediano. Porém, observou-se em outros países, fundamentalmente nos EUA e no Reino Unido, que o participante de um plano CD, muitas vezes, não está preparado ou não se interessa por tomar a decisão de "onde" investir ou deixar seu dinheiro. Ou seja, ele prefere que "alguém decida por ele".

Como resposta a tal desafio, os fundos ciclo de vida utilizam o conceito dos fundos target-date (ou data-alvo), ou seja, fundos multimercados que automaticamente ajustam a alocação de ativos (renda fixa,  variável etc.) do portfolio de acordo com um cronograma predefinido, para seguir as necessidades do investidor.

Um fundo target-date é um fundo estruturado para atender alguma data específica no futuro, como a de aposentadoria. Por exemplo, um produto desse tipo para o ano 2040 sofre alterações já planejadas nas alocações de ativos entre hoje e 2040, podendo passar de um perfil bastante agressivo (mais risco) no curto e médio prazos para outro  mais moderado ou conservador (menos risco) no médio e longo prazos. Com relação às práticas globais, Eduardo chama a atenção para o grande crescimento desses fundos ciclo de vida nos países mais desenvolvidos.

No Reino Unido, 90% dos planos CD já oferecem o fundo ciclo de vida como uma opção e em 80% deles essa é a opção implícita (default). Nos EUA, esses números são 84% e 70%, respectivamente. “No Brasil estamos ainda engatinhando”, reconhece Eduardo.

No Brasil, explica Eduardo, algumas seguradoras até já estão oferecendo o produto ao mercado, mas a verdade é que o conceito ainda não chegou às entidades fechadas. Entretanto, pela tendência que se observa no mundo, é possível que esse dia não vá demorar a chegar.
Fonte: Diário dos Fundos de Pensão (08/05/2014)

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