sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Fundos de Pensão, ao fugirem da renda fixa em busca de rentabilidade, têm percalços na migração para renda variável

O crescimento do déficit de alguns fundos de pensão e notícias estampando páginas de jornais sobre perdas com aplicações em empresas que estão enfrentando problemas levaram os dirigentes de grandes fundações a explicar a situação do setor em audiência pública no Senado ontem. A tônica do encontro, que durou quase três horas, foram os desafios de migrar os investimentos para a renda variável num cenário econômico de baixo rendimento da renda fixa.

Estiveram presentes quatro fundos de pensão que, juntos, respondem por 46% do patrimônio do setor: Previ (dos funcionários do Banco do Brasil), Petros (Petrobras), Funcef (Caixa) e Postalis (Correios).

Para Newton Carneiro da Cunha, diretor administrativo e financeiro da Petros, os fundos de pensão do país "têm de ter mais governança" nesse momento em que a rentabilidade da renda fixa não é tão alta como antigamente. "As fundações precisam se especializar mais, porque temos de ir para renda variável. Ficar na renda fixa não vai dar", disse.

Duas aplicações da Petros exemplificam bem esse cenário: em ações das empresas "X" de Eike Batista e na Lupatech. No primeiro caso, a fundação não tinha mais ações do grupo quando ele entrou em crise. "Compramos na baixa e vendemos na alta. Tivemos um bom retorno", disse Cunha. Já no segundo caso, a participação da Petros deve ser diluída na reestruturação da companhia.

A Petros tem 24,25% das ações ordinárias (ON, com direito a voto) da Lupatech, empresa do setor de petróleo que enfrenta dificuldades financeiras. Segundo o executivo, a aplicação foi feita entre 2006 e 2008 pelo fato de a empresa ser uma fornecedora da Petrobras. Cunha disse que o problema da empresa é de administração e que o fundo entrou na gestão da companhia. "Ao sairmos do conforto da renda fixa para a renda variável estamos sujeitos a isso", disse.

Geraldo Aparecido da Silva, secretário-geral da Funcef, disse que "a tranquilidade dos bons retornos com títulos públicos não é mais uma realidade, para o bem da sociedade, mas exige de nós [fundos de pensão] mais desafios. O aumento do risco exige aumento da eficiência".

Marcel Juviniano Barros, diretor de seguridade da Previ, lembrou durante sua apresentação que nos últimos dez anos a rentabilidade dos investimentos em renda variável ficou próximo de 600% e os de renda fixa ficaram pouco abaixo desse percentual. Ele lembrou que essa rentabilidade foi acima da meta atuarial do período, que foi de 226%.

A Funcef tem um déficit atuarial de R$ 1,4 bilhão, apurado no fim do ano passado. Segundo Silva, a situação "está sob controle", pois o déficit "não é uma questão estrutural, e sim conjuntural", pois foi influenciado pelas oscilações de mercado e crise econômica. Ele disse que o resultado negativo será regularizado com a gestão dos investimentos, mas admitiu que não deve ser revertido neste ano, por conta da performance da bolsa de valores. Cerca de 37% dos ativos da fundação estão em renda variável.

O diretor presidente do Postalis, Antonio Carlos Conquista, disse que sua prioridade é não deixar o déficit do fundo de pensão dos Correios se agravar. O rombo é de cerca de R$ 1 bilhão. Foi feito um plano para equacionamento do resultado negativo "para que não ocorra o fechamento do fundo e seja garantido o pagamento dos benefícios sem nenhum período de interrupção", afirmou.

Segundo Conquista, a fundação tem algumas aplicações cujos resultados só vão ser contabilizados no fechamento do ano, com a reavaliação desses investimentos. Ele citou o exemplo do investimento em um terreno comprado em Cajamar, interior de São Paulo. Além disso, ele apontou a mudança no perfil de investimento que vem sendo implementada pela nova diretoria financeira, como a compra, na semana passada, de R$ 113 milhões em títulos públicos, que estavam pagando 6,2% ao ano, portanto, acima da meta de retorno do fundo de 6%.

Questionado sobre os investimentos e retornos do Postalis serem diferentes de seus pares, Conquista disse que não tem como fazer esse tipo de comparação, pois ele não sabe em detalhes a composição de carteira dessas outras entidades. Segundo ele, grande parte do déficit do fundo se dá por causa dos investimentos em renda variável. "Com a queda dos juros você parte mais para o risco e fica mais vulnerável", disse.

Segundo dados da Previc, órgão regulador do setor, o déficit dos fundos que estão no vermelho somava R$ 22,3 bilhões em junho.
Fonte: Valor (22/11/2013)

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