segunda-feira, 27 de maio de 2013

Aposentadoria: Taxa de aposentados que voltam à ativa cai de 33% para 25% em 11 anos

Queda, que ocorre em praticamente todas as faixas de renda, vai contra as expectativas e surpreende até especialistas
O brasileiro vive mais, com mais saúde; envelhecer custa caro; falta mão de obra no mercado; e as últimas mudanças no sistema de Previdência do país foram para reduzir o valor das aposentadorias. Logo, a parcela dos trabalhadores que continuam no batente, mesmo depois de se aposentar, não para de crescer, certo? Errado. Em 2001, 33% dos aposentados trabalhavam, mas a taxa foi caindo e chegou a 25%, em 2011, segundo a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE.

São mais de cinco milhões de pessoas num universo total de 20,1 milhões de aposentados. Mas a queda, que ocorre em praticamente todas as faixas de renda, vai contra as expectativas, surpreende até especialistas e não tem uma, mas várias explicações. As principais são: melhora do mercado de trabalho e da renda das famílias; ganho real do salário mínimo; o início cada vez mais tardio da vida profissional e o aumento da idade da aposentadoria; o número maior de mulheres no total de aposentados; e uma gratificação de permanência criada pelo governo federal para o servidor que, mesmo podendo, deixa para pedir o boné mais tarde.
Uma grande parte dos aposentados era responsável pela renda familiar. Se o mercado de trabalho melhora e absorve mais pessoas da família, a tendência é que os mais velhos fiquem mais em casa — diz Clemente Ganz Lúcio, diretor técnico do Dieese.
Ele vê um pequeno movimento de redução entre 2002 e 2009, mas um degrau para 2011, quando a parcela de aposentados trabalhando perdeu cinco pontos percentuais. Além do período de intervalo maior entre as pesquisas (não houve Pnad em 2010), foi justamente quando ocorreu a melhora mais intensa no mercado de trabalho, com maior ganho dos salários e queda mais intensa do desemprego — a taxa nas regiões metropolitanas passou de de 8,1% para 6%.
Outro motivo citado pelos especialistas é demográfico, reflexo do envelhecimento geral da população brasileira. Dados tabulados pelo IBGE mostram que, nos últimos dez anos até 2011, a fatia dos aposentados com mais de 60 anos subiu de 71% para 78%. Em geral, quem se aposenta mais velho tem menos disposição de permanecer no mercado e também menores possibilidades de encontrar um novo emprego. É uma regra que vale para maioria, embora não se aplique aos profissionais mais qualificados.
— A idade é um fator muito importante na decisão de voltar ao mercado de trabalho, influencia muito — destaca Luís Eduardo Afonso professor do Departamento de Contabilidade e Atuária da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP).
Professor de economia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e especialista em previdência, Mario Rodarte analisou, a pedido do GLOBO, o trabalho dos aposentados em cinco grandes regiões metropolitanas, com base na Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), do Dieese:
— Concluí que a taxa de participação deles na força de trabalho vem caindo ano a ano. As evidências sugerem que o perfil muito conhecido do indivíduo da terceira idade, que acumula renda do trabalho e aposentadoria, tem perdido representação. Por outro lado, têm aumentado os casos de idosos ativos sem aposentadoria e daqueles com aposentadorias, mas inativos — afirma Rodarte, chamando a atenção para os ganhos reais do salário mínimo como mais um importante fator de contribuição para as mudanças.
Não é que os aposentados tenham deixado de ganhar pouco: metade dos 16 milhões pagos pelo INSS em 2011 ganhavam o mínimo, e 66% do total recebiam até dois mínimos. Mas nos dez anos anteriores, o salário mínimo aumentou 53,4% acima da inflação. Ao mesmo tempo, o rendimento dos trabalhadores subiu 23,75%, e o ganho dos aposentados, 16%. Em média, eles recebiam R$ 1.058 naquele ano contra R$ 1.240 dos trabalhadores ativos.
Dona de um benefício um pouco acima dessa faixa, a servidora municipal Dilene Torto, de 57 anos, conta que até chegou a pensar em procurar outro emprego quando se aposentou no ano passado, mas acabou desistindo.
— Não senti a necessidade de voltar. Apesar de a minha renda ser pequena, ela é suficiente para que eu tenha meu carro, possa passear e aproveitar os netos e escrever um livro — diz.
Servidores adiam aposentadoria
Decisão diferente tomou o chefe de máquinas de navio da Marinha Mercante Luiz Carlos de Souza, de 65 anos, quando se aposentou. Foi há 20 anos e ele tinha 45 de idade:
— Continuo trabalhando até hoje para manter minha renda. Dos dez salários mínimos que recebia naquela época, hoje restam só R$ 1.600.
Do serviço público, sobretudo o federal, vem outra explicação para o menor retorno dos aposentados ao mercado. Quem chama atenção é Kaizô Beltrão, especialista em Previdência e Demografia da Fundação Getulio Vargas (FGV), que colocou uma lupa sobre gastos da União com a gratificação de permanência, criada para estimular o adiamento de aposentadoria. Quem atinge o tempo e idade para se aposentar mas não faz isso, fica livre dos 11% de contribuição para a Previdência que, no setor público, incidem sobre o valor total do salário.
Quando foi criada, em 2004, o governo gastou R$ 132 milhões com a gratificação. Desde então, o valor só aumentou e, no ano passado, consumiu quase R$ 1 bilhão. O Ministério do Orçamento e Gestão informa que hoje já são 95 mil beneficiados.
— É uma quantidade muito grande de servidores adiando a aposentadoria. E os servidores estão entre os trabalhadores que mais voltam ao mercado após se aposentar, em geral para iniciativa privada — diz Beltrão. — A gratificação foi uma decisão inteligente, pois evita contratar um novo funcionário e ainda adia o pagamento da aposentadoria.
Fonte: O Globo (27/05/2013)

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