sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Aposentadoria deve ser considerada desde o início da carreira


Uma boa parte dos profissionais que hoje vive a fase da meia-idade começa a manifestar uma forte preocupação com as perspectivas da sua aposentadoria. Isso tem relação direta com a forte queda nos rendimentos financeiros, na medida em que o Brasil vai se inserindo no padrão das economias reconhecidas como mais avançadas. Ou seja, torna-se cada dia mais real a perspectiva de queda no padrão de vida em relação ao que foi planejado, quando os rendimentos das aplicações eram elevados.
A solução para muitos será a de adiar, em média entre quatro e seis anos, sua aposentadoria.  Mas esse novo panorama merece a atenção também de todos aqueles que estão entrando no mercado de trabalho. O planejamento da carreira precisa incluir o tema do preparo para a aposentadoria, e não apenas no aspecto financeiro, pois esse assunto não está tão distante quanto muitos imaginam.
É preciso fazer uma análise ampla na perspectiva do passado, do presente e do futuro de cada indivíduo, em sua estrutura familiar e até mesmo cultural.
Indicadores como o aumento da longevidade e a redução nos índices de natalidade, por exemplo, já provocam sérios efeitos na Europa e Estados Unidos — e nós não estamos isentos dessas mesmas causas.
Recentemente, o “The Wall Street Journal” publicou um artigo em que analisa o impacto das mudanças econômicas e sociais europeias na estrutura das famílias, tais como aposentadoria, acesso das mulheres no mercado de trabalho, desemprego entre os jovens, cuidados dos filhos e longevidade, entre outros.
Destaco o seguinte trecho: “Não é de hoje que a família é a argamassa da sociedade na Europa meridional. O apoio intergeracional tem profundas raízes históricas e religiosas. Na orla mediterrânea do continente, onde reinam o catolicismo e influências muçulmanas, não há lugar para o individualismo de nações protestantes do Norte europeu e do mundo anglo-saxão, onde aceitar uma ajuda expressiva dos pais é vergonhoso. Na Itália, não sair de casa ou repassar ao pai e à mãe a missão de cuidar dos netos é perfeitamente aceitável.”
O texto afirma também que onde o Estado do bem-estar é fraco, a estrutura de apoio familiar é alta, pois as pessoas precisam se valer de recursos privados. Esse modelo “tudo em família”, no entanto, é uma das muitas estruturas sociais que reformas econômicas no continente europeu ameaçam desmontar.
Boa parte do aprendizado em relação a esse assunto é de que o preparo para a aposentadoria não é uma mera questão financeira ou de transição do emprego para o pós-emprego. Ela envolve as relações do casal, da família como um todo e dos projetos de vida de cada indivíduo neste contexto. Portanto, é essencial incluir o tema nas agendas para que seja discutido e resulte em ações no presente e no futuro de todos.
Renato Bernhoeft é fundador e presidente do conselho de sócios da höft consultoria – transição de gerações. Atua como consultor e palestrante no Brasil e no exterior. É articulista e autor de 16 livros sobre empresas familiares, sociedades empresariais e qualidade de vida. Cursou filosofia na Faculdade Anglicana de Teologia, em São Paulo. Trabalhou por sete anos em projetos de desenvolvimento comunitário da Organização das Nações Unidas para a educação, a ciência e a cultura (Unesco) no México e no Peru. Coordenou a área de recursos humanos nas empresas Kibon, DOW Química e Villares.
Fonte: Valor (09/11/2012)

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