segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Idosos: Creche pública para idosos?????

Tramita na Câmara de São Paulo um projeto de lei que prevê a criação de creches públicas para idosos, dentro de um programa social voltado para a terceira idade. A população idosa no município é de 12%.
"É fundamental termos políticas públicas não só para esse idoso que tem família e que pode voltar para casa no final do dia, como para aquele que já foi abandonado pelos familiares", diz Hélio de Oliveira, responsável pela coordenadoria do idoso do município.
Parte desses idosos sem apoio familiar é atendida hoje por um programa de acompanhamento de idosos, da Secretaria Municipal da Saúde. Os acompanhantes levam os idosos ao médico, supervisionam a alimentação e higiene pessoal e ajudam na manutenção da casa. O programa atende hoje a cerca de 2.700 idosos.
Um lugar para maiores 
Eles chegam pela manhã, fazem de quatro a seis refeições e desenvolvem atividades como desenho e canto
A cadeira verde é da Áurea. A azul, da Horita. E a marrom é da Maria. Os nomes delas e das colegas também constam no quadro da sala, ao lado das datas de aniversário.
Não fossem pelas mais de sete décadas que cada uma carrega, o lugar poderia ser uma escola infantil. Mas é uma creche de vovós e vovôs.
Esse novo tipo de negócio tem crescido em São Paulo. Alguns já nasceram como creches ou centros-dia -como preferem chamar certos especialistas.
Outros são casas de repouso que estão aproveitando o espaço ocioso para atender a idosos por diárias. Alguns chegam a oferecer serviço de transporte (leva e traz).
"As creches são uma tendência. É bom negócio para as casas de repouso porque aproveitam a estrutura física e de pessoal que já têm. E resolve o dilema das famílias que não querem deixar seu idoso asilado", afirma Eduardo Bonini, consultor na área de gerontologia.
Essas instituições funcionam assim: os idosos chegam pela manhã, trazidos por familiares. Ali, eles fazem de quatro a seis refeições ao dia e desenvolvem várias atividades monitoradas, como desenho e canto. Também têm sessões de fisioterapia e fonoaudiologia. No final do dia, às vezes já de banho tomado, voltam para suas casas.
"Facilitou minha vida e minha mãe está mais feliz. Não tenho paciência e nem formação para cuidar dela o dia todo", diz a bancária aposentada Marilisa Bradbury.
A mãe dela, Rebecca, 79, com diagnóstico de demência senil, frequenta uma creche, na zona leste de São Paulo, cinco dias por semana.
Em geral, os usuários das creches são idosos fragilizados. Ou seja, têm doenças como Alzheimer ou Parkinson, ou sequelas de derrame. Estima-se que em São Paulo existam ao menos 350 mil idosos com esse perfil.
"Esses idosos não aparecem. São aqueles debruçados nas janelas dos apartamentos ou no fundo dos quintais. São invisíveis para a sociedade", afirma Edelmar Ulrich, 60, presidente da Associação dos Familiares e Amigos dos Idosos (Afai).
Ele e um grupo de familiares de idosos criaram uma creche depois que o local que frequentavam foi fechado. Cada família paga entre R$ 580 e R$ 850 mensais. Hoje, existe fila de espera. Em outras creches, cujas diárias chegam a R$ 130, há vagas.
POLÊMICA
O termo creche é polêmico. Especialistas em envelhecimento dizem que ele é pejorativo, infantiliza o idoso.
"É lamentável chamar de creche. Mesmo no caso de pessoas com demência é fundamental manter sua autonomia, respeitar seus desejos. Não é uma criança", diz o médico Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional de Longevidade.
Já os proprietários desses centros até usam o nome como marketing. "Já tentamos centro-dia, centro de vivência, mas o que pegou mesmo é creche ou escolinha", diz Neli Gaeta, sócia do Centro de Vivência Solar Flor de Lis.
Ex-diretor na OMS na área de envelhecimento, Kalache aprova o conceito dos centros-dia. "Eles ajudam o idoso a preservar a dignidade, aumenta a sociabilização e estimula as funções físicas e mentais remanescentes."
Mas ele alerta que a falta de uma regulamentação clara sobre o funcionamento dos serviços pode gerar abusos. "Vira um depósito de idosos."
Convívio entre idosos ajuda no resgate da vida social
Centro-dia surge como opção para quem não apresenta limitação grave.
QUANDO BEM EQUIPADOS E ESTRUTURADOS, ESSES CENTROS PODEM TRAZER BENEFÍCIOS BIOPSICOSSOCIAIS À VIDA DOS IDOSOS, COMO SUPERAÇÃO da PERDA DE ENTES QUERIDOS 
Com o envelhecimento da população brasileira, que em 2020 deve atingir 30 milhões de pessoas com 60 anos ou mais, o centro-dia surge como opção para atender a demanda por um serviço de assistência a idosos semidependentes.
Idosos semidependentes são aqueles que não apresentam limitações graves e que não podem receber os cuidados necessários durante o dia por parte de seus familiares.
Alguns estudos realizados pelos pesquisadores gerontólogos da USP (Universidade de São Paulo) mostram que os motivos que levam os familiares a colocar seus idosos em um centro-dia são vários. Alguns exemplos:
1 - Conflitos na família;
2 - Necessidade de tempo livre para o cuidador;
3 - Necessidade de atividade e convívio social para o idoso;
4 - Percepção do estresse e cansaço para cuidar;
5 - Declínio cognitivo e da funcionalidade do idoso.
VIDA SOCIAL 
Quando bem equipados e estruturados, esses centros trazem benefícios biopsicossociais à vida dos idosos. Dentre eles, foram relatados pelos idosos aspectos de superação a determinados eventos de vida, como a perda de entes queridos.
O convívio entre os idosos frequentadores e destes com os profissionais também se mostrou essencial no resgate da vida social.
Além disso, os familiares também observam benefícios como perceber o idoso mais feliz, com mais tempo livre para si e família, além de melhora na saúde e na relação com os familiares.
Esses resultados mostram o centro-dia como opção positiva e alternativa para evitar o asilamento.
Eles já são uma realidade em vários países.
No Japão, por exemplo, o centro-dia é encontrado em todos os bairros, em todo território nacional, pois perceberam que a melhor alternativa para a pessoa idosa é retornar para a casa no final do dia e permanecer na companhia de seus familiares.
Esses centros precisam ser, urgentemente, instalados no Brasil, em um número que possa atender à população idosa, pois os que temos são insuficientes. Por isso, é fundamental que a proposta de centro-dia para idosos seja incorporada em uma política pública, com profissionais sérios e competentes.
Creches em SP 
Centro-dia da Afai *
R. Samuel Porto, 299, Mirandópolis
Tel: 0/xx/11/2532-3803
A partir de R$ 580 por mês; inclui fisioterapia e fonoaudiologia
Centro de Vivência Solar Flor de Lis
R. Eugênia de Carvalho, 1.208, Vila Matilde
Tel: 0/xx/11/2082-3495
R$ 60 a diária; inclui fisioterapia
Residencial Melhor Idade
Av. Vereador José Diniz, 262, Alto da Boa Vista
Tel: 0/xx/11/5524-5045
R$ 120 a diária; inclui psicoterapia
Centro-dia Espaço Verbo Amar
Av. São Camilo, 1.583, Granja Viana
Tel: 0/xx/11/4169-4000 R$ 130 a diária; inclui fisioterapia e enfermaria
*Não tem vaga

Fonte: Folha de S.Paulo (02/09/2012)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

"Este blog não se responsabiliza pelos comentários emitidos pelos leitores, mesmo anônimos, e DESTACAMOS que os IPs de origem dos possíveis comentários OFENSIVOS ficam disponíveis nos servidores do Google/ Blogger para eventuais demandas judiciais ou policiais".